Duas oficinas realizadas em maio pela Ecoa, no âmbito do projeto “Despertando o Viver no Cerrado: Mulheres articulando em rede”, reuniram assentadas e quilombolas para compartilhar e aprofundar seus conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais. 11676f
Professora Ieda Bortolotto
A troca entre ciência e saber tradicional foi conduzida pela professora Ieda Bortolotto — pesquisadora de etnobotânica e uma das fundadoras da Ecoa. As atividades aconteceram no Ceppec (Assentamento Andalucia, em Nioaque/MS), nos dias 1 e 2 de maio, e na comunidade de Furnas da Boa Sorte (Corguinho/MS), no dia 16.
Encontro entre o conhecimento ancestral e o científico 6v4w5i
Pautada pela escuta atenta, Ieda conduziu as oficinas de forma participativa, valorizando as experiências das mulheres e promovendo a troca horizontal de saberes.
Entremeando técnicas e conceitos científicos, ela trouxe reflexões sobre o papel histórico das mulheres na preservação do uso das plantas e sobre como esse conhecimento foi sendo silenciado ao longo do tempo, especialmente com a institucionalização da medicina ocidental.
Como disse dona Zeli, assentada e membro do Ceppec:
“A gente não vem só aprender. A gente a o que a gente sabe pras pessoas, e as pessoas am pra nós o que não sabemos também. Como diz o ditado, a gente nasce aprendendo, a gente morre aprendendo e não aprende tudo.”
Dona Zeli faz parte do Ceppec desde sua fundação.
Ancestralidade, memória e resistência 2x5p2v
As participantes partilharam histórias de cura, receitas de família e lembranças de seus ancestrais — vizinhos, avós, bisavós — que detinham grande conhecimento das plantas e suas aplicações.
Giseli Ferreira
“Lembrei bastante da minha família: meu bisavô, minha avó, meu avô. Eles eram indígenas e faziam muitos remédios com plantas. Tudo isso volta, eu lembro de todos eles hoje”, contou Gisele Ferreira, jovem moradora do Assentamento Andalucia e membro do Ceppec.
Para Rosana Claudina, a Preta do Ceppec, o uso das plantas tem contribuído significativamente para a saúde das pessoas, especialmente após a pandemia. Ela destacou a importância de resgatar esse conhecimento e de manter vivas práticas que estão desaparecendo com o esvaziamento dos territórios rurais:
“Depois da pandemia nunca mais se pode dizer que a saúde está bem. Então a gente começa a ter necessidade urgente de trabalhar o resgate do uso dessas plantas, do conhecimento, da transferência desse conhecimento.”
Boas práticas no cuidado e na conservação 3in1r
Durante as oficinas, também surgiram preocupações com a contaminação das plantas medicinais nas áreas de coleta, devido à proximidade de atividades de mineração, estradas e uso de agrotóxicos. A partir disso, abriram-se diálogos sobre cuidados no manejo, a importância do monitoramento ambiental e a possibilidade de articulação com universidades para identificação e análise das espécies.
As atividades incluíram saídas a campo para identificação de espécies, mapeamento coletivo das plantas presentes no território, rodas de conversa, experimentação de chás, e orientações práticas sobre formas de preparo, conservação e comercialização — seja com as plantas in natura, seja por meio de essências, tinturas e outros derivados. Também foram discutidas questões legais sobre rotulagem, uso e venda de plantas medicinais.
Resgatar com o corpo: cheiro, paladar, memória n2f5b
Um momento bastante simbólico foi a degustação de infusões preparadas com ervas. A dinâmica propôs um desafio às participantes: adivinhar os chás pelo aroma, sabor e aparência. A proposta revelou algo importante — muitas vezes, sabe-se mais sobre plantas exóticas do que sobre as nativas do Cerrado.
A partir dessa experiência sensorial, Ieda trouxe uma reflexão:
“A canela, a canela todo mundo conhece… mas já tomou chá de casca de guavira? Quase ninguém. Porque as pessoas não conhecem. É esse distanciamento que a gente teve durante muitos anos do Cerrado que a gente precisa resgatar”.
Ciência com retorno 2w6244
No encerramento das atividades, Mariana Nocetti, doutoranda em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), reforçou a importância da presença da universidade nas comunidades e da devolução do conhecimento para quem vive nos territórios:
“Às vezes a gente vai para um lado tão científico, tão acadêmico, que acaba se distanciando de quem a gente devia estar dando respostas, porque o estudo científico não é para os outros cientistas — é para a comunidade. Então, em ações como essa, a gente consegue devolver o que está aprendendo lá e criar uma conexão. (…) É um círculo que se retroalimenta. Por isso acho muito importante sempre vir para a comunidade, para que ela veja o que ela precisa.”
Mariana Nocetti
Sobre o projeto fb14
O projeto “Despertando o Viver no Cerrado: Mulheres articulando em rede” é realizado pela Ecoa e CerraPan – Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal, com apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF) e do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).
O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência sa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, da União Europeia, da Fundação Hans Wilsdorf, do Fundo Global para o Meio Ambiente, do Governo do Canadá, do Governo do Japão e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.
📸 Confira as imagens:
Oficina de Plantas Medicinais do Cerrado no Ceppec – 01 e 02/05/2025 – Assentamento Andalucia (Nioaque/MS)
Professora Ieda Bortolotto
Dona Zeli faz parte do Ceppec desde sua fundação.
Giseli Ferreira
Mariana
Oficina de Plantas Medicinais do Cerrado na comunidade Furnas da Boa Sorte – 16/05/2025 – Corguinho/MS
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“Foi um prazer conhecer tantas histórias de dedicação que essas mulheres tem com o Cerrado. A maioria das inscritas estava plenamente apta a participar desse programa, o que tornou mais difícil a seleção (…). Por isso, trabalhamos também pelo aumento de vagas disponíveis para receber mais mulheres nessa jornada que se inicia a partir de agora e que esperamos que seja o semear de um Cerrado mais forte, mais equitativo e justo para as mulheres pelo Cerrado”. – Nathalia Ziolkowski, presidenta da Ecoa, sobre a divulgação das selecionadas para o Curso de Formação de Mulheres Líderes do Cerrado
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Luana Campos
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