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Gran Chaco: conheça o bioma esquecido 6g2x1g

8 minutos de leitura
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Gran Chaco no Paraguai (Foto por Ilosuna)

Muito prazer, Gran Chaco: Maior floresta tropical seca da América do Sul, o Chaco, corre sério risco de extinção antes mesmo que as pessoas se deem conta da sua existência. A ecorregião se estende por 800 mil km² abrangendo partes da Argentina, Bolívia, Paraguai e uma pequena porção no Brasil, abrigando uma grande diversidade de povos indígenas como Ayoreo, Chamacoco e Wichie – entre muitos outros. Também é o lar de espécies endêmicas e raras de flora e fauna. Mesmo assim, apenas 9% do bioma está protegido. 57422i

O Chaco no Brasil: No país, o Chaco está localizado principalmente dentro de fazendas na região de Porto Murtinho (MS), na fronteira com áreas semi-alagadas do Pantanal e com o Paraguai. Por não ser reconhecido oficialmente como bioma pelo Governo brasileiro o Chaco é esquecido pelas políticas públicas. Em 1998 a área estimada do Chaco brasileiro era de 12,400 km². Atualmente, restam apenas 13% de sua floresta original. Elevar o Chaco brasileiro ao nível de bioma seria um o importante e estratégico para o desenvolvimento de políticas de proteção a nível federal e estadual. E isso deve ser logo, antes que a paisagem mude… e para sempre.

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O Chaco se estende por Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia. Imagem: Mighty Earth

Desmatamento: Em 2014, a ONG Guyra Paraguay divulgou dados de análise por imagem de satélite mostrando que o Gran Chaco perde um hectare por minuto de vegetação nativa para o desmatamento. O bioma se tornou um dos mais ameaçados do mundo com a expansão da agricultura industrial, que converte agressivamente a vegetação nativa para produzir commodities, principalmente soja e pecuária.

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Queimada ilegal no Chaco para ampliação de campos de soja. Foto: Mighty Earth

Perda de biodiversidade: Estudos mostram que essas mudanças no uso do solo tem resultado na degradação e fragmentação do habitat para muitas espécies da flora e fauna. O Chaco abriga cerca de 3400 espécies de plantas; 500 de aves; 150 de mamíferos; 120 de répteis e aproximadamente 100 de anfíbios.

Uma pesquisa publicada na revista científica Ecology and Evolution mostra que em populações de plantas do gênero Prosopis L., uma espécie-chave da flora do Chaco, essa fragmentação reduz o número de indivíduos e sua diversidade genética causando endogamia – algo como consanguinidade – a longo prazo. Fábio Alves, doutor em Biologia Vegetal pela Unicamp, principal autor do estudo, explica que isso representa um grave risco diante das mudanças climáticas, uma vez que ocorre a redução na capacidade física de resposta dessas plantas a novos fungos e oscilações de temperatura, além de afetar sua fertilidade.

Prosopis rubiflora, árvore encontrada no sul de Mato Grosso do Sul e no nordeste do Paraguai (onde está ameaçada de extinção). Foto: Fábio Alves
Prosopis rubiflora, árvore encontrada no sul de Mato Grosso do Sul e no nordeste do Paraguai (onde está ameaçada de extinção). Foto: Fábio Alves
Prosopis ruscifolia, uma valorosa espécie chaqueniana para a restauração de áreas degradadas. Foto: Fábio Alves
Prosopis ruscifolia, uma valorosa espécie chaqueniana para a restauração de áreas degradadas. Foto: Fábio Alves

Já outro artigo científico, publicado na Journal of Applied Ecology, sugere que mais da metade de todas as aves e 30% de todos os mamíferos da fauna do Gran Chaco podem ser extintos em 10 a 25 anos. Coordenado pela pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de Humboldt, Asunción Pascual, o estudo mostra que as espécies não se extinguem de forma imediata com a mudança no uso do solo, o que significa que esses impactos podem ser revertidos caso as medidas de conservação e restauração sejam implementadas de forma imediata.

Inundações: No norte da Argentina é onde ocorrem a maior parte dos desmatamentos no Chaco (80%), mais da metade ilegal. Segundo relatório do Greenpeace, não coincidentemente, a região é a que mais tem sido afetada com inundações, cada vez mais frequentes e mais violentas. Dados de um estudo divulgado pelo Banco Mundial em 2016 conclui que “as inundações são o maior desastre natural que ameaçam a Argentina e representam 60% dos desastres naturais, e 95% dos danos econômicos”.

Isso ocorre porque os bosques nativos funcionam como esponjas, assimilando a água das chuvas e amortizando a ocorrência de enchentes. Com a substituição da vegetação do Gran Chaco ocorre um escorrimento maior dessas águas, uma vez que a capacidade de infiltração das pastagens de soja são enormemente inferiores. Engenheiro e pesquisador do Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (INTA), Nicolás Bertrám, acompanha há mais de 10 anos as chuvas e inundações em regiões de sojicultura na Argentina. Em seus levantamentos ele estreita claramente a relação danosa entre os cultivos de soja e o lençol freático. Há locais em que o lençol freático chegava a 14m de profundidade nos anos 1970 e hoje está com apenas 50cm, anulando a capacidade de absorção da terra.

luanacamposPor Luana Campos (Ecoa)
Luana é graduada em Jornalismo (UFMS) e mestre em Divulgação Científica e Cultural (Unicamp)

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Referências
The Avoidable Crisis: The European Meat Industry’s Environmental Catastrophe – Mighty Earth
Agribusiness harm to Gran Chaco genetic diversity: centuries to heal – Mongabay
Genetic structure of two Prosopis species in Chaco areas: A lack of allelic diversity diagnosis and insights into the allelic conservation of the affected species – Ecology and Evolution
Brasil corre risco de perder um bioma inteiro, sem nem ao menos saber que ele existe – O Eco
A hectare of gran chaco forest lost every minute – World Land Trust
Gran Chaco: Biodiversity at High Risk – HU Berlin
Mapping extinction debt highlights conservation opportunities for birds and mammals in the South American Chaco – Journal of Applied Ecology
La deforestación ilegal en Chaco dejó más de 50 mil hectáreas arrasadas – Perfil
“La soja es la principal causa de las inundaciones en nuestro país” – Chaco Hoy

 

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1 Comment 321v62

  1. É muito triste ver o descaso com a região. Além de afetar diretamente na vida humana, com tantos problemas ambientais, e ainda mais impactante na fauna e flora, ainda temos perca cultural. Sabe se lá quantos vestígios que poderiam ajudar a entender melhor nosso país, ou até mesmo nossa história latina histórica e pré-histórica esta sendo perdida. Espero que em breve as coisas melhorem!

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